sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Resenha do CD “Um por todos” – Ao cubo


Rhythm and poetry, é destas palavras de origem inglesa, que significam “ritmo e poesia”, que vem o tão famoso estilo musical que denominamos Rap. De modo simplório, no Rap encontramos: nas letras das músicas a marcante presença das rimas, a sonoridade é variada, mas basicamente composta por “batidas” e o scratch (som alcançado com o atrito da agulha do toca-discos no disco de vinil), dentre outros efeitos. O conteúdo de suas letras versa sobre diversos temas (política, experiências de vida, violência e outros mais) com uma linguagem que mescla, desde palavras eruditas às coloquiais (a maioria) de uso corriqueiro, como as gírias.

O Rap Gospel, como chama-se o estilo cujos grupos tem por objetivo compartilhar do evangelho de Cristo, pode-se dizer que é um movimento recente no Brasil, mas muitos grupos têm se destacado por seu testemunho e qualidade musical. Um destes, de origem paulista, chama-se Ao Cubo (nome este em referência à Trindade – Deus, Jesus e Espírito Santo), e é formado pelo quarteto: Cléber, Fjay, Feijão e Dona Kelly.

Muito recentemente, lançaram um disco entitulado Um por todos pela gravadora Graça Music, este é o quarto álbum do grupo, os outros foram o “Respire Fundo” (2004), que ganhou versão ao vivo, o “Respire Fundo Acústico” (2005) e o disco “Entre o Desespero e a Esperança” (2007).

Em “Um por todos”, percebe-se outra das caracteristicas do estilo: a presença de muitas participações especiais, de outros cantores convidados. Das 12 músicas que compõem o disco, pelo menos em 8 delas, têm-se essas parcerias, o que enriquece esse trabalho. Vamos agora, verificar o conteúdo das músicas.

Começamos pela música chamada Proibido chorar, nela, logo de ínicio, o Ao Cubo contesta algumas informações que frequentemente ouve-se pelos meios de comunicação: que os jovens são grandes causadores de crimes e da violência. O Grupo nos mostra que a contrário disto, na verdade os jovens são as maiores vítimas do sistema excludente. No refrão, que fica por conta de André Valadão, ouve-se um verdadeiro clamor: “Socorro me ajuda, por favor me ajuda, se tiver alguém ai com fé, não consigo mais ficar de pé”!.

A faixa dois chama-se Respeito é a chave, e aborda a questão da importância de se saber conviver com as pessoas, dos mais variados tipos, pautando-se no respeito às posturas de vida escolhidas por cada um, e dizem que, afinal “cada um faz da vida o que quiser, independente do que pensa ou de sua fé, respeito é a chave só não pode dar a pé, a toda a quebrada é assim que é”. A música 3, é a Terra, nesta ficou bem legal a soma de Zeider (do Planta e Raiz) com o seu reggae, mais as batidas do rap do Ao cubo, eles levantam a “badeira do meio ambiente”, na tentativa de conscientizar as pessoas, e em um trecho dizem “ouço um alarme, é um ronco à humanidade, nosso clima não combina, mais que fatalidade, é o nosso patrimônio será que falta neurônio?, o sol tá bem mais quente sem camada de ozônio, olha o céu todo cinza, não é chuva e nem brisa, é a fumaça do busão que traz asma e coriza”.

Na faixa 4, Filhos (que é uma das musicas de trabalho, executada nas rádios, e dela foi feito o vídeo) encontramos forte saudosismo causado pela separação dos pais, lamenta-se principalmente a ausência do pai que foi embora, mas diz “sonhei, nunca faz mal sonhar, busquei alguém pra me espelhar, achei, em Deus um pai, meu Rei, meu respirar”. A seguir vem “Vale ouro” (depoimentos) onde André Santos (jogador do Fenerbahce-Turquia) e Serginho (Seleção Brasileira de Vôlei) contam suas experiências de vida, que foram cheia de dificuldades, lutas, e o quanto tiveram empenho, humildade e perseverança para vencer na vida.

A música 6, Nasci pra vencer, continua o tema da faixa anterior do disco, assim “eu nasci pra vencer, eu nasci pra ganhar, não aceito perder, agora eu vim pra buscar”(…) e diz “chega mais, tudo em paz, tudo nosso, o verbo que fortalece diz pra mim que eu tudo posso(…) vem na fé né, e seja o que Deus quiser”. A seguir, vem a faixa Põe na conta, ela traz uma critica bem humorada ao capitalismo selvagem, responsável por gerar os “ consumistas”, em certa parte da letra , um garoto fala: “ô mãe compra pra mim, que eu prometo ser o melhor filho!”, mas a mãe responde: “mas eu só tenho você!”. Afinal “quem é que não conhece alguém assim, viciado em comprar, e gastar diz pra mim, comprar no shopping, gastar o din-din, estourar o cartão até o fim!”.

A oitava faixa, Amanheceu, versa sobre a nossa vida, nela Danilo Oliveira canta “o céu clareou, mas um dia amanheceu, sou agradecido pela vida que me deu! Ser feliz e ficar bem, tem que sonhar e agir também, e viver em paz!”. A nona música, Não Acabou tem seu refrão cantado por Soraya morais: “não acabou, não é o fim…há esperança em meu coração, de que Deus tá me olhando e luta por mim!”. A letra desta música fala sobre a perseverança e a confiança em Deus, pois “eu sei que cuida dos pardais, e de todos animais, pro coração aflito num imagina o que num faz, ò Deus conhece os seus verdadeiros, aliás, se ainda não me deu, tem os segundos finais, tem os sinais de transformação, pela sua compaixão, seu favor me abraça, é de graça e sem razão”.

Em Um por todos, que é a música 10 do cd, e é a que entitula o mesmo, tem boas participações (Como GOG, Pregador Luo) e o seu refrão é “olha pra nós, toda comunidade pobre, os mano e as mina da quebrada, precisa de ajuda mais que nada”. A seguir, em Livre arbítrio, Dexter faz a rima expontânea, falando de liberdade, em certo trecho muito interessante ele fala “eu sou livre pra não cair dentro desta chama, sou livre por não odiar, e amar quem me ama, é muito bom ter força pra quebrar a corrente, não força do braço, mas sim força da mente”. Fechando o disco, na faixa doze, Alforria, com a participação de Netinho de Paula, com o seu “swing”, continua-se a falar da liberdade, eu “sou livre pra viver, livre pra sonhar, deixa eu cantar, deixa eu ser feliz, eu sou livre pra voar, fazer o que eu sempre quis”.

Pois bem, o Um por todos é mais um belo trabalho do “Ao Cubo”, que consolida-se pelo testemunho de vida de seus integrantes, letras com rimas muito bem “boladas” e um forte engajamento político/social, tudo isso, sem esquecer de louvar a Deus, que é o Um, o Um que é por todos.

Um comentário:

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